Quem de nós já não preferiu um doce ao almoço, um brinquedo a um livro, a brincadeira ao estudo?
Alguns de nós preferiam e não preferem mais, ou, quem sabe, preferem, mas optam pelo benefício do correto em detrimento do gostoso. Outros preferem e se entregam aos desejos, e continuam nos doces, brinquedos e brincadeiras. É como a piada na TV. Uns já não riem, apenas bocejam. Outros ainda rolam no chão às gargalhadas.
Crianças grandes, de barba, grisalhos ou sem cabelos, dirigem seus brinquedos pelas ruas como se estivessem jogando "Need for Speed" ou "GTA". Diferente da tela do videogame, aqui não há restart. Game over é game over, forever. Crianças grandes, de cílios postiços, silicone nos peitos e cicatrizes de cesária, almoçam brigadeiros e correm para a mesa do cirurgião para aspirar fora as gorduras localizadas. Algumas vão de lá direto para o céu, desfilar magrinhas, magrinhas, nos portões guardados por São Pedro.
Crianças grandes, barbudas ou siliconadas, matam o estudo e o trabalho para estender a brincadeira do carnaval até a segunda-feira seguinte. "Demitido? F...-se!".
Tal qual a criança pequena para quem pais amados são os que dão doces, brinquedos e não cobram responsabilidades, é a criança grande que ama o governante que dá dinheiro no lugar de saúde, educação e cultura. Não quero mais e melhores hospitais, não quero mais e melhores (e mais responsáveis) médicos, não quero mais e melhores escolas e professores, não quero mais e melhores defensores públicos, não quero um transporte público de qualidade, não quero uma cidade limpa, não quero um futuro melhor, ou, melhor dizendo, quero um futuro fantástico, repleto de celulares (um para cada um dos sete filhos) de última geração, com acesso ao Facebook, senão não vale, TVs de LED 3D maiores que a do vizinho, carrões financiados em trocentas parcelas, óculos de sol e bolsas de grife, ainda que falsificadas.
Tal qual a criança pequena para quem pais amados são os que dão doces, brinquedos e não cobram responsabilidades, é a criança grande que ama o governante que dá dinheiro no lugar de saúde, educação e cultura. Não quero mais e melhores hospitais, não quero mais e melhores (e mais responsáveis) médicos, não quero mais e melhores escolas e professores, não quero mais e melhores defensores públicos, não quero um transporte público de qualidade, não quero uma cidade limpa, não quero um futuro melhor, ou, melhor dizendo, quero um futuro fantástico, repleto de celulares (um para cada um dos sete filhos) de última geração, com acesso ao Facebook, senão não vale, TVs de LED 3D maiores que a do vizinho, carrões financiados em trocentas parcelas, óculos de sol e bolsas de grife, ainda que falsificadas.
Quero luxo, ainda que com o lixo acumulando à minha porta porque o prefeito sainte perdeu a eleição para o prefeito entrante.
Celulares, TVs, carros, disfarces para a pobreza, de bolso e de espírito. Pena que não sobrou para um plano de saúde, nem para a escola particular, muito menos para os livros, o teatro ou o cinema. Saúde preventiva? Tá de gozação? Não consigo nem não morrer no chão do corredor da emergência! E para que escola particular, se a pública não reprova mais? E com as cotas, então, diploma garantido de doutor. Tô me lixando se permanecerei um analfabeto funcional. Serei demitido é por estender o carnaval, não por minha educação rasa. Teatro? "Vá, mas não me chame", como diz aquela camiseta que comprei quando fui a Porto Seguro gandaiar. Quer saber? Prefiro um boteco, e sem blitz na saída.
Melhor como está. Me dá a mesada assistencialista aqui, em cash, para eu gastar com doce em vez de almoço, com brinquedo em vez de livro, com plástica em vez de saúde, com cachaça em vez de cultura, para eu poder festar!
E nossos pais políticos sabem muito bem disso. Para estampar no rosto da criança um belo sorriso, dê o que ela pede, não o que ela precisa. Assim, fica garantido, em retribuição, o amor, digo, o voto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário