Quem assistiu "Apocalipse Now", de 1979, e gostou do filme, não irá se arrepender de ler o livro do qual foi adaptado seu roteiro.
O interessante é que a adaptação, nesse caso, ao contrário de outras versões cinematográficas de romances, transportou a história 70 anos à frente, da selva africana para a selva do Cambodja, do Kurtz agente de uma empresa exploradora de marfim para o Coronel Kurtz da guerra do Vietnam.
A história trata do resgate de Kurtz, que teria ficado louco após anos enfurnado na selva, convivendo com os nativos. Devido à mistura de elementos tão distintos, a aventura e a psicologia, o livro (e seu autor) foram considerados de difícil classificação por aqueles que o estudaram, a exemplo de Ítalo Calvino.
A clima de tensão ao longo da subida do rio rumo ao coração da selva não se atenua em nenhum instante e a psicodelia do encontro com Kurtz é marcante.
Por outro lado, a narrativa de Conrad é simples, objetiva, sem rebuscos, ainda que feita numa técnica que impressiona. Talvez a origem jornalística do autor ajude a explicar isso. O fato é que quando se inicia sua leitura fica difícil largar o livro.
Contudo, talvez Conrad tenha sido econômico e sucinto em demasia. A história, às vezes, passa a sensação de que deixa coisa demais a ser imaginada pelo leitor (e o leitor mais distraído pode, mesmo, não conseguir "entrar" na história). A narrativa se torna superficial em alguns pontos, como se fosse um roteiro de cinema ou teatro. Quem sabe, Conrad tenha, no seu íntimo, previsto que sua história seria melhor conhecida não na forma do seu livro, mas na forma do filme do Coppola.
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