quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Charles Dickens - Grandes esperanças


Esperanças são apenas isso: esperanças. Essa talvez seja a lição, a mensagem que o Charles Dickens tentou, e conseguiu, nos passar ao escrever esse livro cerca de 10 anos antes de sua morte.

Produto da fase mais madura desse grande autor britânico, mais conhecido por seus romances "Oliver Twist" e "David Copperfield", o livro nos traz a vida de Pip, desde sua infância até a fase adulta, sob o ponto de vista do próprio garoto, que narra, em primeira pessoa, suas aventuras, suas paixões, seus medos, seus sofrimentos, seus sonhos e suas frustrações.
Sua história acaba sendo determinada a partir do marco direcional ocorrido ainda na infância, quando, ao ajudar um preso fugitivo, conquista ali o coração do homem que o ajudará depois, anonimamente, dando-lhe, ainda que apenas temporariamente, "grandes esperanças", traduzidas pelo patrocínio de uma possível vida de cavalheiro em Londres.
O sonho, todavia, não chega a ir além das esperanças. A fuga da pobreza da infância daquele garoto órfão criado pela irmã tirana e pelo cunhado bondoso e carinhoso, é povoada por personagens que representam por si mesmos a maldade e a bondade, o justo e o injusto, deixando claro o viés moral da história. Pip representa o ser humano que oscila entre o bem e o mal, a gratidão e a ingratidão, ou seja, o humano mais humano, com seus erros, desvios e angústias.
Além do fugitivo degredado, benfeitor de Pip, Dickens traz à narrativa a Srta. Havisham, uma idosa que, abandonada pelo noivo no dia de seu casamento, enclausura-se para sempre em seu quarto, cercado pelos restos rotos de seu vestido de noiva e pelos restos podres de seu bolo de casamento. Em seu plano de vingança contra a vida e os homens, adota e molda uma garota belíssima, dando-lhe um coração frio e inescrupuloso. Sua cria terá como objetivo vingar a criadora contra o gênero masculino. Pip, nosso protagonista, passa a ser sua vítima: o garoto a ser seduzido, iludido e abandonado por sua amada, Estela, a filha adotiva da Srta. Havisham. 
Mas, nesse livro, nada termina como se imagina ao longo de sua leitura. A expectativa do leitor, frustrada a cada prognóstico que não se concretiza, a cada amor que não se firma, a cada plano que não chega ao final planejado, nos transporta defitivamente para dentro dos sentimentos dos personagens. Experimentamos, assim, o que os próprios personagens experimentam e constatam nas suas vidas e futuros imprevisíveis: que esperanças não passam de esperanças.

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