Relatar a experiência de ler Charles Bukowski é expôr-se a um grande risco. Bukowski, o poeta do subterrâneo, dos becos, dos porões fétidos, das garrafas de uísque esvaziadas solitariamente ou na companhia de outros seres igualmente "perdidos", pertence àquela espécie dos autores que, ao lado de Jack Kerouac e Henry Miller, são amados e idolatrados por uns, e odiados e desprezados por outros.
Não é todo mundo que se diverte, se encanta ou reconhece a genialidade do seu humor ácido, da descrição fisiológica de nossas necessidades fisiológicas, do trato livre, direto e indisfarçado do álcool, do sexo, da violência, mas, por que não dizer, parafraseando um outro autor do subterrâneo mais próximo, Nelson Rodrigues, da vida "como ela é".
Bukowski destaca-se, todavia, desse grupo seleto de contistas da realidade nua e crua, pelo senso de humor primoroso, não encontrado em seus companheiros de máquina de escrever.
A sátira à sociedade, ao americano "sonhador do sonho americano", à hipocrisia e aos valores pseudo-morais comuns, é colocada de forma brilhante, mas, alerto, indigesta aos estômagos mais sensíveis.
Talvez ninguém se atreva a descobrir o quanto de suas histórias são relatos verídicos e autobiográficos, vividos ou sonhados pelo autor em suas viagens etílicas. A única certeza é a de que sua vida não deixou de ser pródiga em experiências pessoais necessárias à clareza e precisão com que Bukowski conseguiu retratar, em suas obras, a vida marginal.
Nessa coletânea de contos, ri-se da desgraça, mas, também, mostra-se que a desgraça não é pior que o vazio da vida regrada. Como alertei há pouco, é um livro para ser amado ou odiado, mas, sem dúvida, um livro para ser lido.
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