quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Ítalo Calvino - Se um viajante numa noite de inverno


Há livros que contam boas histórias. Há livros que discorrem sobre livros e literatura. Há ensaios sobre a experiência de ler. Se pusermos tudo junto num liquidificador, temos "Se um viajante numa noite de inverno".
Ítalo Calvino não é conhecido apenas pelos romances e contos, mas também por seus ensaios sobre a literatura. Nesse livro singular, resolve juntar as três coisas na história de um leitor e uma leitora e suas experiências com a leitura. A mistura, no entanto, está mais para emulsão de óleo e água. É possível destacar, um do outro, dois livros que se entrelaçam. 
Há um romance, propriamente dito, que narra a experiência dos dois leitores, angustiados em deparar com romances que não passam do primeiro capítulo, seja porque o restante se extraviou, seja porque houve uma falha de encadernação, seja porque se tratava de um original que se misturou a outros. A sucessão de inícios sem fim, não tem fim (com o perdão do trocadilho).
Em paralelo, digo, entrecruzando-se nesse romance, há os inícios de romances lidos pelos nossos protagonistas. Esse segundo elemento foi o que efetivamente gostei no livro. Calvino demonstra aqui sua habilidade (que me lembrou Kubrick) em escrever histórias de estilos os mais diversos: romances psicológicos, de espionagem, eróticos, políticos etc. Pode-se mesmo afirmar que "Se um viajante numa noite de inverno" contém dez pequenos contos de alta qualidade. Difícil dizer se as abruptas interrupções de cada um desses dez inícios de romances deveriam ter continuidade, ou se a interrupção é apenas uma forma de final, brusco, que transporta o leitor para suas próprias conclusões.
É um livro peculiar, um romance, uma coletânea de contos e um ensaio sobre a literatura e o mercado editorial, tudo sob uma única capa.

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