segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Jack London - O chamado da floresta.

Eu näo conhecia Jack London e, portanto, não conhecia “O chamado da floresta”. Comprei o livro após uma rápida garimpada na estante da L&PM de uma livraria de aeroporto (um dos poucos lugares onde achar bons livros nessas livrarias). O objetivo era apenas adquirir algo com que se distrair por algumas horas. E tive uma grande surpresa.
Como estava adorando o livro desde suas primeiras páginas, busquei na internet algumas referências e descobri que o livro figurava em algumas listas dos melhores romances do século XX, e que Jack London era um romancista bem conceituado. E não é sem motivo.
“O chamado da floresta” é um livro curto, de apenas 137 páginas nessa edição de bolso. Traz uma história muito bem escrita sobre um cão que é raptado e vendido para exploradores do Alaska. Forçado a trabalhar como cão de trenó, Buck, mestiço de um São Bernardo com uma pastora Shetland, era um cão robusto, porém manso, que aos poucos, por necessidade, desenvolve seus instintos mais selvagens, como única forma de sobreviver aos rigores de sua nova vida.
London nos mostra que cães e homens são capazes de extrair de si próprios forças e habilidades que em condições normais nunca se mostrariam. É a história da superação do indivíduo, humano ou canídeo, quando submetido a uma terra sem lei, no estado de natureza (nos dois sentidos da expressão). É um típico romance de aventura, recheado de elementos de tensão, violência, mas também companheirismo, determinação e afeto. Como era de se esperar, toca na questão da relação entre homens e cães, às vezes de submissão, às vezes de exploração, às vezes de amor incondicional. Fala do bem e do mal, do justo e do injusto. É um livro que toca o coração não apenas de quem gosta de cães, mas também de quem nunca teve ou quis ter um em casa.
Quem o ler, perceberá quão tênue é a fronteira entre a vida selvagem e a nossa vida “civilizada”.
De leitura fácil e agradável, recomendo também a jovens e adolescentes.

Ítalo Calvino - O Barão nas árvores


Sempre muito bem falado pela Cássia Fernandes, mas por mim apenas recentemente lido, o nome de Ítalo Calvino continuava para mim associado principalmente ao livro não-ficcional “Por que ler os clássicos”.
Finalmente tive o grande prazer de aventurar-me na história do baronete Cosme Chuvasco de Rondó, que, após uma pequena discussão familiar ao jantar, resolve subir num carvalho do jardim de sua casa para nunca mais pôr os pés no chão em vida e nem quando de sua morte, mais de meio século depois.
“O barão nas árvores” é um livro curto e intenso. A narrativa corre sem perder o fôlego, sem parar para descansar, no ritmo do protagonista, dos seus doze anos de idade até para depois dos sessenta e cinco, o que ocorre da segunda metade do século XVII até o início do século XVIII. Durante todo esse tempo, o herói, sem pisar os pés no chão, percorrendo sua vila e arredores, na região de Gênova, apaixona-se, caça, trabalha em prol de sua comunidade, troca correspondências com filósofos importantes da época, participa de batalhas, conhece e relaciona-se com comandantes, príncipes, padres, é “visitado” por damas e donzelas, reencontra seu amor de infância, alegra-se, decepciona-se, questiona tudo e todos, em especial a si mesmo, e despede-se de maneira poética, nem mesmo ali voltando ao solo.
Pulando de galho em galho, literalmente, a trajetória do baronete - depois barão, com a morte do pai - é a história de um homem comum, idealista, sonhador, romântico, inteligente, questionador e essencialmente bondoso, cuja única excentricidade, no fim das contas, é não querer mais descer das árvores. É um belo e muito bem escrito romance, com o toque de realismo fantástico apenas suficiente para tornar o livro ainda mais interessante.
Cercado de personagens singulares como o pai, barão que sonha com o ducado, a mãe, com sua esquizofrenia militarista, a irmã, ninfomaníaca de nascença e meio retardada, o tio vigarista, o preceptor jesuíta fugitivo, e irmão-narrador, talvez o único normal na história, que o inveja mas não o segue, servindo de elo necessário entre Cosme e a vida no solo.
Ítalo Calvino aqui também não perde a oportunidade de prestar homenagem à literatura. Em suas andanças, melhor dizendo, suas penduranças pelos galhos, Cosme encontra um bandido da região, João do Mato, que gostaria de ter livros para ler e assim passar o tempo. O baronete, apaixonado pela leitura, trata de emprestar-lhe alguns, cativando a amizade do larápio e, de quebra, tornando-o um aficionado. O episódio rende passagens hilárias, como uma na qual o bandido é chantagiado por comparsas que ameaçam rasgar e queimar folhas de um interessante romance que não terminara ainda de ler.
A história toda é narrada por Biágio, o irmão menor do protagonista, e impressiona pela forma elegante e ao mesmo tempo divertida, com elementos cômicos, românticos, políticos, filosóficos, referências históricas e científicas, tudo muito bem costurado de forma leve mas profunda.
“O barão nas árvores” é, sem dúvida, um bom exemplo de livro a ser indicado a leitores juvenis ou iniciantes, por ser um dos raros exemplares de uma literatura de qualidade, com conteúdo, bom no roteiro e na forma, sem o rebuscamento que torna os grandes clássicos, modernos ou não, às vezes, de difícil digestão.
Recomendadíssimo!