Na raiz, o Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, afinal é da língua que a árvore de livros puxará sua seiva.
Subindo pelo tronco, são todos livros que eu já li. Eu queria uma árvore que eu conhecesse por fora e por dentro.
O tronco começa com livros robustos, para dar firmeza. Ana Karenina, do Tolstoi, porque Natal lembra família e afinal, como Tolstoi nos ensina na primeira frase do livro, "todas as famílias felizes são iguais. As infelizes são infelizes cada uma à sua maneira."
Depois, a coletânea da Jane Austen, porque Natal lembra Ding-o-bell, que lembra a língua inglesa, que lembra sua maior escritora.
A fugitiva, quinto volume de Em Busca do Tempo Perdido, do Marcel Proust, por ser o escritor mais elegante que conheço. Sua prosa impecável dá charme à árvore.
Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. Sem ele a árvore não seria tão fantástica.
O Grande Gatsby, do Francis Scott Fitzgerald, dando glamour a esse vegetal.
Odisséia, de Homero, narrando a volta de Ulisses à sua árvore de Natal.
Ilusões Perdidas, do Honoré de Balzac, lembrando-nos que a vida não é feita só de natais.
O Lobo da Estepe, do Hermann Hesse, livro em cuja casca gravo meu nome.
Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe. Homenagem póstuma ao protagonista do livro.
Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley, mostrando-nos o que será dos nossos natais um dia.
A Metamorfose, do Kafka, numa referência à própria transfiguração dos livros em galhos e folhas.
Recordações da Casa dos Mortos, do Dostoievski, porque Natal lembra neve, que lembra Sibéria, cenário desse livro.
Histórias de Cronópios e de Famas, do Julio Cortazar, porque só um cronópio como eu teria tido a idéia de vincular esse livro ao Natal.
Doutor Fausto, do Thomas Mann, porque é preciso um pouco de música para se fazer Natal.
Viva o Povo Brasileiro, do João Ubaldo Ribeiro. Afinal, a árvore é brasileira. Viva ela!
On The Road, do Jack Kerouac, porque acima de tudo essa árvore é uma grande viagem.
Por fim, no galho mais alto, o grande Charles Bukowski e seu Ao Sul de Lugar Nenhum trazendo à tona e ao posto mais alto os subterrâneos da vida.
E como em toda boa árvore, nela pousa um passarinho: um poema em forma de caixinha de presente da série "Escritos para uso pessoal e doméstico", da escritora goiana Cássia Fernandes.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Minha árvore de Natal
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Cara-n-avos (ou os outros gominhos da laranja)
Umas me trataram como um deus, me idolatraram, me adoraram.
Outras me trataram como um bebê, me deram colo, me deram o seio, me deram comida, me deram calor.
Umas realizaram minhas fantasias, outras se assustaram.
Umas me pediram fantasias, outras se negaram.
Umas foram santas, outras foram livres.
Umas me deixaram, outras me perseguiram.
Umas partiram, nem todas se despediram.
Umas me batiam, outras pediam, mas não apanhavam.
Umas me cuspiram, outras me babaram.
Umas me ajudaram, outras me sugaram.
Outras me trataram como mais um, me usaram, se satisfizeram.
Outras me trataram com amizade, me ouviram, me aconselharam, velaram por mim.
Outras me trataram como inimigo, me maltrataram, me prejudicaram, me roubaram.
Outras nem me trataram de forma alguma, apenas me viram e passaram.
Mas todas me tocaram, de todas gostei de alguma forma e muitas me magoaram de alguma maneira.
Nenhuma me foi absolutamente boa ou má, algumas foram mais ... outras foram menos ... mas todas foram.
Não tenho cara-metade. Tenho cara-n-avos.
E cada gominho sozinho não faz uma metade de laranja.
terça-feira, 8 de julho de 2014
Forças fundamentais
Há uma teoria na Física que diz haver apenas três forças fundamentais regendo o Universo: a gravitacional, a forte e a eletrofraca.
Há um grande amigo que diz haver apenas três forças fundamentais regendo o ser humano: o alarido das palmas, o tilintar das moedas e o gemido das mulheres.
Chego a conclusão, contudo, de que são outras as três forças fundamentais que explicam o comportamento humano: o amor, a solidão e o orgulho.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Alianças
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Espólio
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Retrovisor
É como um farol de carro.
É como uma tempestade no deserto.
Se olho a luz de frente, ela me cega.
Se encaro o vento, ele levanta a areia na altura dos meus olhos, ele me cega.
Se dou as costas à luz, vejo tudo.
Se dou as costas ao vento, abro meus olhos, e vejo.
Não via nada à frente. Virando-me, vejo tudo.
Não sei enxergar fatos, enxergo apenas marcas no passado.
Mas aí já está marcado, já é passado, já sou eu atropelado.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Para não morrer no esquecimento
