Umas me trataram como um deus, me idolatraram, me adoraram.
Outras me trataram como um bebê, me deram colo, me deram o seio, me deram comida, me deram calor.
Umas realizaram minhas fantasias, outras se assustaram.
Umas me pediram fantasias, outras se negaram.
Umas foram santas, outras foram livres.
Umas me deixaram, outras me perseguiram.
Umas partiram, nem todas se despediram.
Umas me batiam, outras pediam, mas não apanhavam.
Umas me cuspiram, outras me babaram.
Umas me ajudaram, outras me sugaram.
Outras me trataram como mais um, me usaram, se satisfizeram.
Outras me trataram com amizade, me ouviram, me aconselharam, velaram por mim.
Outras me trataram como inimigo, me maltrataram, me prejudicaram, me roubaram.
Outras nem me trataram de forma alguma, apenas me viram e passaram.
Mas todas me tocaram, de todas gostei de alguma forma e muitas me magoaram de alguma maneira.
Nenhuma me foi absolutamente boa ou má, algumas foram mais ... outras foram menos ... mas todas foram.
Não tenho cara-metade. Tenho cara-n-avos.
E cada gominho sozinho não faz uma metade de laranja.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Cara-n-avos (ou os outros gominhos da laranja)
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Foi profundo e lindo!! 😉
ResponderExcluirSim, somos realmente uma mistura de nossas vivências, ainda bem que os gomos que compõem nossa outra metade da laranja são bastante mutáveis, assim podemos experimentá-los sem medo que tenha o mesmo gosto da anterior. Mais um belo texto. Parabéns escritor ;)
ResponderExcluirA casca, vez por outra, nos impede de saber o que vai nos gomos...mas que graça teria a vida, sem a curiosidade que nos impele a romper o invólucro e conhecer o conteúdo, levando a lembrança dos sabores? Adorei o texto, Fred!
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