
Conhecera-a e reconhecera-a singular, diferente, única, também farta de começos e fins, e que buscava, enfim, o transcendental, aquilo que não nascia do físico e dele não herdava seus castelos de areia..
Aquele homem percebia que já se havia satisfeito em tudo. Sua vontade dali em diante, atendendo a sua própria e sincera convicção volitiva, encerrava-se na vida ao lado daquela e de mais nenhuma. Sua libido não mais respondia aos estímulos fugazes de traseiros rebolativos, pernas expostas, olhares vulgares ou esta ou outra artimanha feminina.
Seu único sexo longe da amada era o solitário e em sua homenagem, na lembrança de sua imagem, do cheiro, do decote generoso, da maciez da pele da parte interna das coxas, das mãos leves e carinhosas, dos lábios entreabertos num convite, do olhar hipnotizante e da Yoni perfeita..
Ao encontrá-la, reafirmava seu sentimento pela presença. Ao despedir-se, convencia-se pela ausência. Assim, o prazer do encontro e a dor da distância eram sentimentos opostos que em soma e subtração resultavam no convencimento do amor que nascia para uma vida eterna.
O medo de que seu sentimento fosse filho único, sem gêmeo no ventre de sua amada, assim como dois vulcões dificilmente entram em erupção ao mesmo tempo, exigia-lhe provas de amor todo dia, até na madrugada exausta..
Certa vez, teve a certeza de ter-se enganado quanto ao amor, ou acertado quanto ao seu medo, ao encontrar no diário de sua diva, dirigidas a outrem, as palavras que tanto sonhava em ouvir. Cartas que ela escreveu, mas não me escreveu.
Razão e sentimento imediatamente em postos na batalha, como crianças empunhando espadas de madeira. Não se golpeavam mutuamente, mas sim a sua cabeça, afastando-lhe o sono e o sossego.
Como Otelo, ressonavam-lhe na mente intrigas e suspeitas, não de traições, decerto, mas de que sua musa não era muda por si, mas abstinha-se de falar apenas a ele. Ela tinha em seu intimo os sonhos que ele lhe cobrava, mas neles ele nunca aparecia.
Inobstante a convicção de que o amor só é explicável por aquilo que não é descritível, associava a esse amor, no afã de justificá-lo, infinitos atributos, do caráter aos lindos olhos, do talento aos lábios solícitos, entreabertos, do espírito ao corpo.
Mas quando o amor se rende à razão, melhor seria acordar dessa eternidade efêmera. Coração não pensa e cabeça não sabe amar. Se pensa, não ama, se ama, não pensa. Se ama, não esquece, se ama, não acorda. Não sei brincar de nunca mais descontar no corpo o tesão que se sente pela alma.
Esta de parabéns por este belo texto. Bom dia.
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