Hoje acordei quase esquecendo do meu aniversário.
Queria dar-me, eu mesmo, os parabéns.
Desejar-me, eu mesmo, felicidades.
Dar-me um aperto de mãos com minhas próprias mãos.
Dar-me, eu mesmo, tapinhas nas costas.
Afagar-me, com os meus dedos, os cabelos.
Olhar-me nos meus próprios olhos com um olhar amigo.
Sorrir-me com meus próprios dentes.
Desejar-me, eu mesmo, votos de sucesso.
Abraçar-me, eu mesmo, calorosamente.
Dar-me, de mim para mim mesmo, apenas uma lembrancinha, repare não!
Dizer-me, eu mesmo, cinicamente, puxa! você emagreceu!
Telefonar-me, de longe, proclamando saudades de mim mesmo.
Postar fotinhas antigas de mim abraçado comigo, dos tempos em que andávamos juntos, unha e carne.
Relembrar das piadas que ouvi de mim mesmo, do sorriso que dei a mim mesmo um dia, dos momentos inesquecíveis que tive ao meu lado e das barras que passei e eu não me abandonei.
...
Mas na minha casa não há espelho.
Não me vejo cara a cara para dar os parabéns, e nem enxergo meus dentes quando sorrio.
Minhas mãos só trocam apertos de forma desconjuntada.
Não alcanço meus ombros com minhas mãos,
Não alcanço, com meus tapas, as minhas costas.
Se levo as mãos à cabeça, não é para afagos.
Porque preciso do outro, vejam só!
Para tudo isso e muito mais.
Para me refletir no outro e nele aprender.
Para com ele cair, com ele levantar e com ele seguir.
Para a ele dar e dele receber parabéns, amor, dor, seja o que for...
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ResponderExcluir2013 foi o ano dos aniversários auto-comemorados!
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ResponderExcluirSeja o que for..
ResponderExcluirSua poética (e melancólica) autocelebração de aniversário me pareceu dialogar com os célebres (e desiludidos) versos de Álvaro de Campos, em 'Aniversário'. Como distinção, demarco, o naco de humor e, principalmente, a janela-aragem-frescor que seu poema entreabre, restando-nos aquela aceso - e sempre insistente - paviozinho de esperança, o qual você expressamente confessa: 'Se levo as mãos à cabeça, não é para afagos./Porque preciso do outro, vejam só!/
ResponderExcluirPara tudo isso e muito mais./Para me refletir no outro e nele aprender./Para com ele cair, com ele levantar e com ele seguir./Para a ele dar e dele receber parabéns, amor, dor, seja o que for...//'
Pois você nada se assemelha - penso eu! - ao desolado Pessoa, 'sobrevivente' a si mesmo 'como um fósforo frio'. Felizmente.
Um brinde à Vida, em seu feixe de perda-susto-dor-amor, vida, enfim.