sábado, 5 de outubro de 2013

Distância invertida



Há uma forma especial de saudade
quando se está perto e longe num mesmo instante.
Saudade que passa em frente a uma certa janela,
e torce o pescoço ao ver um certo carro.
Apura os ouvidos para ouvir falar de alguém pelos cantos.
E se não se ouve num canto,
vai-se a outro onde se ouça.
Se um filme, uma canção, um livro, 
um lugar, um cheiro, uma cor,
nos faz lembrar,
espreita-se sem se convidar,
e se imagina o que não se quer nem sonhar.

Há uma forma especial de mudez
quando se quer mas não de pode falar.
Grita-se sem o grito bradar.
E quando brada, não se ouve ecoar.
Escreve-se o que nunca é lido.
Aquelas cartas alimentando a fogueira ou em pedaços.
Por favor, leia antes de queimar...
ou rasgar.

Há uma forma especial de cegueira
quando a lua cheia não clareia.
Ainda que se veja, não se quer enxergar.
Você crê e não quer duvidar.
Lê sem nada assimilar.
Avança, quando é melhor recuar,
e não se aprende que é melhor nem tentar.
Não siga em frente! Melhor parar!

Há uma forma especial de ansiedade
quando a manhã seguinte não quer raiar.
Os olhos abrem e não se quer levantar.
O sangue corre sem querer estancar.
A chaga não fecha,
tudo é só pressa,
Resta só dúvida,
e angústia.

Há uma forma especial de solidão
quando se está perto e longe no mesmo instante.
Quando àquela janela há mais de uma sombra.
Quando naquele carro há uma carona.
Quando se ouve falar de alguém com mais alguém pelos cantos.
Quando certas coisas nos fazem lamentar.
Quando se espreita para constatar.
Quando se percebe que não cabe sonhar.


2 comentários:

  1. adoro quando você escreve, as vezes consigo me ver te vendo falar coisa tão lindas, tristes ou expressivas. Saudades, com amor... Quem te ama

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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