terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Tacape


Um dia desses um amigo veio a mim se queixar dos eventos sociais de que a esposa lhe obrigava a participar. Eram jantares da família dela, almoços dos colegas do trabalho dela, aniversários dos sobrinhos dela (sim, aqueles em buffets infantis), e todo tipo mais de encontro no qual, por falta de intimidade e de passado com os demais presentes, o tempo custa a passar. E custa caro.
Minutos intermináveis nos quais todos os pensamentos filosóficos, sociológicos e antropofágicos, digo, antropológicos a respeito das relações humanas nos vêm à mente. Por quê? Por que estou aqui? 
Nas relações do jogo de favores, das trocas de obrigações, das demonstrações de amor através do sacrifício, das cessões e consentimentos, concessões e resignação, cada favor realizado é um favor a ser cobrado, cada doação é um direito a retribuição a ser lembrado.
Na contabilidade do toma lá dá cá, os créditos nunca são esquecidos e nem os débitos perdoados. Auditoria implacável que exige o ajuste de contas diariamente. Livro-razão? Não. Está mais parfa livro-emoção.. É puro instinto de posse e de necessidade de provas por parte do outro. Apenas o sacrifício alheio nos contenta e satisfaz. 
O homo sapiens do século XXI ainda usa seu tacape e arrasta parceiros pelos cabelos.

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