Ah o amor romântico!
Lendo todos aqueles romances do século XIX com suas histórias de amores corteses, paixões de uma vida inteira, juras de amor, orgasmos espirituais ao mais leve toque de mão, enfim, todas aquelas cenas românticas regadas a mel e açúcar, passarinhos cantando ao redor das cabeças dos amantes etc etc etc, pode-se chegar à equivocada conclusão de que o amor romântico não resistiu ao século XX e, por isso, não chegou ao século XXI.
Não é bem assim! Muda-se o cenário, mudam-se as ferramentas, as roupas, os cabelos, os costumes, mas o ser humano é o mesmo. Aliás, se o ser humano muda-se no ritmo da troca dos séculos, toda a filosofia grega clássica estaria morta já há alguns deles.
Os costumes decerto mudaram.
Alazões e ginetes perderam os cascos, ganharam rodas e trocaram o capim pela gasolina. Amantes cavalgam em direção ao ser amado no meio não de bosques floridos, mas entre ônibus, pedestres suicidas e assaltantes nas esquinas engarrafadas.
Cartas de amor seladas a cera e brasão, entregues por mensageiros de confiança, hoje correm sem papel, sem selo, sem tinta e sem charme, na infovia nem tão confiável. Bilhetes entregues de mão a mão, até com a desculpa da entrega para tocar um pedaço de pele ou de luva da amada, ou do amado, são agora torpedos invisíveis e sem tato, disparados de dentro do bolso.
A voz que para ser ouvida exigia a presença do outro e garantia também sua vista, desde muito pode ser ouvida à distância; mas até o telefone mostra sua obsolescência diante dos meios mais modernos e seguros do torpedo, do post e do chat, que não exigem resposta imediata, ou nem exigem resposta, e protegem os amantes de inadvertidas exposições emocionais como respirações ofegantes, gagueiras súbitas, risos nervosos ou outros sinais que derrubam nossas máscaras e "entregam" nosso verdadeiro eu.
Os salões de baile, local preferido para a corte, descartaram suas velas e candelabros em troca de neons e luzes negras, e o embalar da valsa pela balada da rave. Cantar à amada embaixo de seu balcão tornou-se atividade perigosa, sujeita a assaltos ou prisões. Melhor mandar-lhe links de vídeos musicais pela internet a partir do conforto de seu quarto.
Mas tudo isso são apenas costumes, meios, ferramentas. O amor é o mesmo. Não me venham falar do amor livre dos anos 60, no fim da estabilidade afetiva dos anos 70, no amor grupal-sexual dos anos 80, no amor rápido e descompromissado dos anos 90 ou no amor salve-se-quem-puder do novo milênio. São diferentes facetas no mesmo velho amor.
O amor que fez Madame Bovary (em "Madame Bovary", de Flaubert) matar-se com veneno e que fez Julien Sorel (em "O Vermelho e o Negro", de Stendhal) perder a cabeça, literalmente, numa guilhotina, pelo seu amor, é o mesmo que fez Cibele Dorsa, aos 36 anos de idade, jogar-se de sua janela para a morte em 26 de março de 2011 por não suportar o suicídio do noivo um mês antes. Também é o mesmo amor que ceifou a vida de Miquéias Rafael de Oliveira, em 09 de maio de 2012, aos 16 anos de idade, que se enforcou em casa após ser abandonado pela namorada.
Se tivessem cometido suicídio na época de Flaubert e Stendhal, teriam deixado lindas cartas manuscritas manchadas de lágrimas e sangue. Mataram-se, todavia, sob a falta de classe do século XXI, deixando voláteis mensagens nas redes sociais, lidas por expectadores passivos e indiferentes.
Diferentes idades, diferentes histórias, mesmo motivo: o tal do amor romântico. Aquele que nos ensina a não saber viver sem a "nossa outra metade".
O amor romântico, aqui aproveitando algo dito por Nikos Kazantzakis em "Os Imãos Inimigos", pode ser a a maior alegria ou a maior tristeza que existe. Os momentos ao lado da pessoa amada são incrivelmente prazerosos. A perda da pessoa amada, por outro lado, pode ser fatal, de verdade.
Seja no século XIX, XX ou XXI, o amor é o mesmo. E não é de todo bom. Como diria um americano, "love sucks".
Amor, palavra tão pequena e tão difícil de definir; simples, tão simples que as pessoas não mais o percebem nem experimentam em sua totalidade...
ResponderExcluirO que fere, a si ou a outrem, não pode ser chamado de Amor, será qualquer destas patologias insanas que se multiplicam; tudo, menos Amor...
AMOR??? digam que é utopia, mas sonho encontrá-lo...
Não sou dona da verdade, mas convenhamos, o amor é um dos sentimentos mais nobres que existe, muitos acreditam que amam, se enganam, e além de enganar a si próprio, engana o outro também.
ResponderExcluirPaixão... Acredito que seja a paixão que causa esse turbilhão de sentimentos que ocasionam mortes, suicídios, tristezas e outros...